IV Congreso Internacional
Historia a Debate
Santiago de Compostela, 15-19 de diciembre de
2010
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Mesa J. Historia acad�mica y ficci�n hist�rica Autor: Lia Nunes (Funda��o para a Ci�ncia e a Tecnologia, Coimbra, Portugal) T�tulo: A fic��o pode ser um aliado da Hist�ria Texto breve: A no��o de que a Hist�ria deveria chegar a mais pessoas do que chega, deforma a poder preparar as pessoas para perceber o que as rodeia e o jornal que l�em todas as manh�s, � uma no��o que o historiador e o professor de Hist�ria tem que come�ar a adquirir de forma mais veemente. Seja quando est� a dar aulas nas escolas ou nas universidades, preparando novos investigadores, novos professores, ou novos gestores de conte�dos. Porque vivemos no imediato, ter a no��o de passado, n�o s� como �um pa�s estrangeiro�, mas como um territ�rio de onde viemos, � imperativo para podermos criticar e questionar o futuro que nos querem colocar � frente dos olhos, a todos. Por isto, penso que a fic��o pode ser um aliado da Hist�ria,desde que de facto as fronteiras entre ci�ncia e fic��o fiquem cada vez mais claras, para os que a criam e para os que consomem. Nos dias 11 a 14 de Mar�o deste ano, decorreu, no Porto, o V Encontro Nacional de Estudantes de Hist�ria (ENEH). Desde o primeiro momento previu-se que uma das tem�ticas, transversal a muitas das discuss�es e apresenta��es, seria precisamente essa fronteira entre a hist�ria acad�mica, profissional e a hist�ria que est� a ser levada ao grande p�blico, seja cient�fica seja ficcional. Tem�tica pol�mica, ainda mais tendo em conta o contexto e os intervenientes da discuss�o. Sendo o ENEH um espa�o de defesa da hist�ria enquanto ci�ncia e �rea de investiga��o para muitos estudantes, foi natural encontrar um ambiente de defesa pela hist�ria acad�mica, que requer objectividade, excel�ncia, exig�ncia. De facto, um dos cr�ticos desta rigidez que se pretende em torno da Hist�ria foi Jo�o Paulo Oliveira e Costa, professor catedr�tico da Universidade Nova de Lisboa, autor de Imp�rio dos Pardais, romance hist�rico. Na realidade, este historiador tocou em dois pontos important�ssimos desta rela��o entre ci�ncia e fic��o. O historiador cada vez mais tem nas suas m�os a informa��o e a capacidade para demonstrar que a hist�ria foi vivida por homens e mulheres como n�s, com sentimentos, ac��es e reac��es muito semelhantes �s que temos agora, noutros quadros mentais. Na fic��o a hist�ria chega facilmente a grandes p�blicos porque h� essa aproxima��o, e as pessoas conseguem identificar-se, o que, por outro lado, leva a um interesse que muitas vezes se reflecte na procura de trabalhos cient�ficos sobre determinado tema abordados por obras de fic��o. A fic��o �, desde h� muito, usada no ensino da hist�ria, precisamente porque consegue condensar, em minutos, anos, pessoas, linguagens, vestu�rio, comportamentos, mobili�rio, quadros mentais, etc. Portanto, � bastante f�cil transmitir conte�dos atrav�s de um filme ou de um document�rio, assim como � mais acess�vel para os alunos apreend�-los atrav�s de imagens do que pelos manuais escolares ou pela aula em si. A fic��o, por�m, nunca deve ser mais que a introdu��o a uma explica��o mais abrangente do que se procura ensinar. O problema come�a quando o cinema, ou o romance hist�rico, os jogos, as reconstitui��es virtuais, os sites ou os panfletos de museus e monumentos, se tornam substitutos de um conhecimento cient�fico mais rigoroso e mais objectivo, na chamada ditadura da divulga��o � como referiu no dito ENEH, o professor Lu�s Miguel Duarte. Este ano, no �mbito do Mestrado Europeu em European Digital Media Arts and Cultural Heritage Studies, propus ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha realizar com duas escolas um projecto que procurou dar um novo contributo ao ensino da Hist�ria. Procurei fazer o processo inverso: o objectivo seria, atrav�s do Moodle, passar os conte�dos aos alunos - neste caso sobre o convento e a sua hist�ria - e convid�-los a realizar Cenas do Mosteiro. Em colabora��o social, partindo de investiga��o realizada pela equipa do Centro Interpretativo, foi poss�vel trazer as escolas ao s�tio, produzir conhecimento activo. Foram eles que escreveram o gui�o, que pensaram nos figurinos necess�rios, que protagonizaram um dia na vida do Mosteiro. E, com todas as falhas de representa��o pr�prias de adolescentes de 12 anos, sa�ram do mosteiro com uma experi�ncia de que n�o se v�o esquecer, que permitiu que percebessem que a fic��o n�o � realidade, e que para sempre os vai fazer lembrar do que era um convento medieval. A fic��o pode ser um grande aliado da Hist�ria. Encontramos o recurso ao passado como receita para sucesso de um filme, um livro, um jogo, e continuamos a ter alunos insatisfeitos na aula de hist�ria. O historiador n�o pode continuar a esquivar-se da responsabilidade de chamar rigor e objectividade cient�fica a esta moda que � o patrim�nio. Existe um p�blico enorme disposto a consumir cultura. E esse p�blico quer sempre mais e melhor. Todo o conhecimento hist�rico � constru��o. Se os alunos das escolas e j� da universidade n�o perceberem esta rela��o, vamos ter cada vez mais consumidores alheados do que s�o as fronteiras entre fic��o e realidade, e cada vez mais a Hist�ria vai ficar alheada dos processos de constru��o ficcional que pode levar a Hist�ria acad�mica a muitos mais interessados. Voltando ao ENEH, percebemos desde a primeira edi��o que uma das grandes preocupa��es dos estudantes de Hist�ria � precisamente o seu futuroprofissional. E parece-me que a �rea de empregabilidade do historiador � cada vez mais abrangente. V�o sempre ser necess�rios professores de Hist�ria, assim como investigadores para centros universit�rios, museol�gicos, etc. A hist�ria acad�mica nunca pode deixar de existir: a hist�ria � uma ci�ncia, os historiadores est�o constantemente a rever, acrescentar, descobrir, rectificar conhecimento. Contudo, n�o podemos fechar os olhos � quantidade de conte�dos que est�o a ser produzidos na nossa �rea, fora da academia, por profissionais que n�o est�o habilitados. A fic��o � uma dessas �reas. Por mais que possamos discutir esta fronteira de que falamos, sabemos que para um filme e mesmo para um romance hist�rico s�o ou deviam ser reunidas, equipas de investiga��o, assim como para qualquer jogo, para websites dedicados a variad�ssimos temas ligados � nossa �rea de investiga��o. Esses conte�dos n�o deveriam ser produzidos e revistos por profissionais da Hist�ria? Podemos colocar uma s�rie de quest�es de �ndole profissional. No que concerne ao grande p�blico, a quem a hist�ria acad�mica ainda n�o chegou t�o facilmente como em fic��o, podemos falar de compromisso, Efectivamente, na fic��o hist�rica, h� um compromisso com a necessidade de tornar um produto apelativo, rent�vel, consum�vel. Ou seja, o historiador sabe � partida que n�o vai poder incluir todos os pormenores, pois nem todos interessam ao grande p�blico; ou que, havendo um gui�o independente, s� poder� dar o pano de fundo de uma hist�ria imaginada. Obviamente, tamb�m as equipas de produ��o ter�o de estar dispostas a ceder ao historiador, que dever� exigir rigor no que toca � reconstitui��o de cen�rios que ele estudou e investigou. Trata-se aqui de fomentar o racioc�nio hist�rico: depois da escola, a maioria das pessoas deixa de se interessar pela Hist�ria. Primeiro porque as recorda��es podem n�o ser as melhores � decorar nomes, datas, batalhas, reis, lugares n�o lhes valeu de nada. Depois, como vimos, na fic��o a Hist�ria ainda se consegue absorver: �toda a gente leu o livro do Dan Brown, tamb�m vou experimentar�, �naquele filme sobre Tr�ia entra o meu actor favorito�, �aquele jogo � sobre a minha terra�. O que falha entre uma coisa e outra � a capacidade de dar a entender �s pessoas que � o contexto, a estrutura de acontecimentos, a no��o de que as raz�es que nos levam a determinado s�tio est�o demasiado enraizadas na nossa hist�ria para lhe passarmos ao lado. (Parece que nem vivemos na Europa, num mundo de ra�zes judaico-crist�s, ainda muito ligado a Deus, cujos preceitos se baseiam numa das obras de fic��o mais lida, mais usada, mais pol�mica � a B�blia.) � |
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