Sección temática I. 1. Nuevas relaciones
entre historiadores y fuentes
Autor:
José Geraldo Vinci de Moraes (Universidade de São Paulo, Brasil)
Titulo:
O historiador, o luthier e a música
Resumen:
Marc Bloch afirmou que o historiador deveria agir em seu ofício como um
milimétrico "luthier (...) que guia-se, antes de tudo, pela
sensibilidade dos sons e dos dedos". A afirmação é muito interessante,
de uma extraordinária atualidade e pode ser a indicação de um criativo
caminho para a evolução de um campo de investigação historiográfica que
tem a música e as sonoridades como objeto ou fonte documental. E não é
simplesmente pela lembrança óbvia do luthier, artesão de instrumentos
musicais.
A sugestão do historiador francês é claramente dirigida à linguagem
escrita, mas é possível dar passo adiante e ampliar para os registros
dos sons. Isto é, para os historiadores que têm interesse pela música e
pelos sons não basta somente a linguagem escrita para compreender e
traduzir o passado; ele tem que levar em conta as sonoridades inscritas
nesse passado e sua escuta no presente, ação que na verdade está
inscrita em toda operação historiográfica. Claro que, por diversos
motivos, esta não é uma tarefa simples, já que na maioria das vezes
esses sons são impossíveis de serem recuperados ou escutados pelo
historiador. Como uma arte do tempo que desaparece no ato mesmo de sua
execução, resta a ela registrar-se em primeiro lugar na memória, depois
na linguagem e notação para não perder-se. Além das dificuldades de
lidar com um objeto evanescente, com a tecnicidade da linguagem musical
e as suas fontes, campos do conhecimento próximos da História assumiram
durante décadas a tarefa de compreender a construção, funcionamento e a
difusão da música nas sociedades. Esses fatos e certamente outros
relativos aos discursos historiográficos tradicionais - durante muito
tempo determinaram a relativa "surdez dos historiadores" que, no entanto,
parece estar em vias de cura desde o final do século XX.
Portanto, esse pode ser um momento excepcional para o historiador
aprofundar a discussão em algumas direções. Em primeiro lugar, em torno
das questões relacionadas às sutilezas e complexidades da hermenêutica
da criação, performance e divulgação artística. Nesse campo, a atitude
interdisciplinar torna-se imperiosa, senão iniludível, levando o
historiador a recorrer à musicologia, língua e literatura,
etnomusicologia, semiótica, história da música e assim por diante. A
compreensão da ampla rede de sociabilidades (formas de sobrevivência,
espaços de divulgação, performances, relação criador-intérprete,
intérprete-ouvinte, etc.) do universo cultural da música que cria e
alcança no tempo historicidades peculiares que precisam ser
compreendidas e estudadas devidamente nas suas redes culturais e sociais,
sob pena de perderem-se em generalidades ou em excessivas
especificidades
técnicas. E as problemáticas metodológicas e práticas relacionadas à
diversidade das fontes e documentação (manuscritos, partituras impressas,
organologia, registros fonográficos, áudios-visuais, digitais, registros
escritos indiretos, etc.) e a hermenêutica que implica cada uma delas |